segunda-feira , 28 abril 2025
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UMA POR DIA… Era dia de circo

 

Na cidadezinha que me viu nascer, qualquer coisa era motivo para o acendimento das pessoas. 

 

 Imaginem quando um circo resolvia aparecer…

 

 O leão, velho e cansado, era a atração mais falada e, todos matavam aula para vê-lo bocejar, por entre as grades da jaula.

 

 A população de gatos diminuía com a chegada mambembe – Diziam, as más línguas, que nós trocávamos os bichanos por ingressos. 

 

 Não era verdade.

 

 “Respeitável público”… O apresentador rompera as cortinas que divisavam a fantasia da realidade. Em portunhol, anunciava as atrações. Em transe, quase que hipnotizado, arregalava os olhos a cada número apresentado. Sublime!!

 

 E vieram os palhaços! E não eram apenas palhaços, mas palhaços anões… – Como os da Branca de Neve!

 

 E tudo era tão engraçado que metade de mim ficou do lado de fora do cercado. Ali, eu não teria que decidir sobre nada. 

 

 A primeira vez que fui num circo de verdade eu já era grande. E é bem mais difícil para um adulto enxergar a graça.

 

 O mágico estava envolto numa capa que, de tão comprida, tocava o chão. Ao lado dele a sua assistente de sorriso pleno.

 

 Tirou da cartola, um coelho; depois, uma pomba; e um lenço, que transformou numa bengala…- E arrancou de mim uma lágrima.

 

 Apalermado, estava, por me reencontrar naquele templo de ufanismos.

 

 Tan, tan, tan, tan…- E que rufem os tambores!!!

 

 Os trapezistas só podiam ser deuses astronautas, por violarem as minhas lembranças.

 

 Foi quando uma juvenil, de maiô reluzente, atirou-se do ponto mais alto do picadeiro. Era como se a lua despencasse cá embaixo.

 

 Transcorreram-se eternos milésimos de segundos. E mesmo que tivesse sido, exaustivamente, ensaiado, a plateia não queria acreditar. O homem carrega consigo a essência do pessimismo. 
E, então, fora anunciado o fim do espetáculo.

 

 Misturado às crianças que saiam apressadas, arrisquei olhar uma última vez para o meu passado. Não havia mais  o que temer. Eu havia sonhado de olhos abertos.

 

 
Misael Nóbrega de Sousa

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