Ao que parece, publicar o famoso ‘Especial de Natal Porta dos Fundos’ rendeu grande prejuízo à Netflix no Brasil em 2019. O longa-metragem foi considerado, por muitos brasileiros, um insulto à fé cristã devido ao conteúdo vexatório e ofensivo com a pessoa de Jesus Cristo e com passagens bíblicas na trama.
O filme, intitulado de ‘A primeira tentação de Cristo’, traz uma narrativa de que Jesus supostamente teria um namorado, além de cenas caóticas da ‘Santa Ceia’, com encenações obscenas e falas tipicamente indecentes para a representação de pessoas que seriam personagens de histórias da Bíblia.
Várias frentes do Brasil se mobilizaram para retirar o filme do ar. Um abaixo-assinado com mais de 500 mil assinaturas foi promovido, direcionados à Câmara dos Deputados, ao Senado Federal e aos próprios Porta dos Fundos e Netflix. A justiça do Rio de Janeiro despachou ordem judicial para que a Netflix retirasse o longa da plataforma digital, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, revogou a decisão e manteve o especial no ar, alegando crime de censura.
Porém, o que mais vem preocupando a plataforma digital de streaming Netflix é a baixa nas assinaturas no Brasil. De acordo com um relatório divulgado pela própria Netflix, em dezembro de 2019, a empresa perdeu cerca de 10% de seus assinantes brasileiros após a polêmica no quarto trimestre do ano. Além disso, a Netflix vem perdendo 5% de assinaturas a cada ano também devido ao crescimento da concorrência.
Com isso, acredita-se que a manifestação dos movimentos cristãos e os protestos de religiosos tenham motivado o aumento no cancelamento de assinaturas no Brasil. Em Pernambuco, o bispo da Diocese de Palmares, Dom Henrique Soares da Costa, pediu aos fiéis que revogassem as assinaturas na plataforma:
“Eu exorto vivamente aos cristãos: neste Natal, proclame seu amor, sua fé, seu respeito em relação a Nosso Senhor Jesus Cristo; mostre que seu amor por Ele é real e ativo: cancele a assinatura da Netflix e lá, no menu apropriado, explique o motivo: “desrespeito por Jesus Cristo”, “desrespeito pelo cristianismo”, etc. Se você realmente crê e ama ao Senhor, não há outra atitude a tomar”, disse.
Deputados e pastores repudiaram a obra do Porta dos Fundos. Julio César Ribeiro (Republicanos) afirmou: “Quem não respeita meu Senhor Jesus, não merece meu respeito. Tchau, Netflix”, disse no Twitter, ao cancelar a sua assinatura. Já o pastor evangélico Silas Malafaia, da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de São Paulo, desafiou o Porta dos Fundos a fazer sátira com Maomé, relembrando o atentado assumido por extremistas islâmicos à redação do Jornal Charlie Hebdo, em 2015 na França, após jornalistas terem publicado piada com seu líder religioso.
Em um vídeo, o jornalista paraibano Heron Cid afirmou que toda liberdade tem um limite e que o objetivo da obra do Porta dos Fundos foi de atrair público, causar polêmica e arrecadar dinheiro. Segundo ele, a obra atentou contra o principal símbolo da fé Cristã, a pessoa de Jesus Cristo. Heron Cid disse que é contra a censura, pois, para ele, o melhor remédio a esse tipo de conteúdo é ignorar.
Sem respostas
A reportagem do Blog do Jordan Bezerra entrou em contato por e-mail com a Netflix, e a empresa afirmou que não iria se pronunciar sobre o caso. Os relatórios citados na matéria estão disponíveis no site media.netflix.com
A reportagem também tentou contato com a produtora Porta dos Fundos, mas não obteve êxito. Entretanto, em suas redes sociais, a produtora postou: “somos contra qualquer ato de censura, violência, ilegalidade, autoritarismo e tudo aquilo que não esperávamos mais ter de repudiar em pleno 2020. Nosso trabalho é fazer humor e, a partir dele, entreter e estimular reflexões”, afirmou sobre a polêmica.
Blog do Jordan Bezerra
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