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Turbulência política e econômica no Reino Unido: entenda a queda da primeira-ministra Liz Truss

 

Por Ricardo Medeiros

 

Quando a premiê Liz Truss se afastou do púlpito no lado de fora da famosa porta preta do número 10 da Downing Street, nessa quinta-feira (20/10), depois de anunciar a sua renúncia ao cargo de primeira-ministra, após um período de apenas seis semanas na função, provavelmente se deu conta que seu tempo como primeira-ministra foi tão longo quanto a campanha de liderança que a levou até lá.

 

Em seu anúncio, Truss disse que se afastaria para que um novo líder fosse escolhido na próxima semana, após um número crescente de parlamentares de seu próprio Partido Conservador declarar que não poderia mais apoiá-la.

 

“Dada a situação, não posso continuar o mandato para qual fui eleita pelo Partido Conservador. Por isso, falei com Sua Majestade o Rei para notificá-lo de que estou renunciando ao cargo de líder do Partido Conservador”, declarou Truss, no mesmo local em que ela havia prometido colocar o Reino Unido de volta ao caminho do crescimento econômico e da estabilidade apenas seis semanas antes.

 

Com isso, Truss se tornará a primeira-ministra com o mandato mais curto da história britânica, depois de uma série de medidas desastrosas que lançaram o Reino Unido em profunda turbulência política e econômica.

 

Truss iniciou seu mandato em setembro, após a renúncia de Boris Johnson, propondo uma agenda radical que, segundo ela própria, foi projetada para impulsionar o crescimento econômico. Porém ela teve que voltar atrás quase que imediatamente depois que o oposto aconteceu. Suas propostas desencadearam um colapso econômico imediato e ampliaram a instabilidade que tem abalado o Reino Unido desde a sua separação da União Europeia (o Brexit), deixando sua liderança no limbo, enquanto o país enfrenta uma crise no custo de vida e uma recessão iminente.

 

Entenda a crise que levou à queda de Liz Truss


A rápida queda de Truss do poder veio depois que ela introduziu a Trussonomics (Trussonomia, em tradução livre, junção das palavras Truss e Economia), um plano para cortes maciços de impostos destinados aos mais ricos, o que a levou posteriormente a inverter o discurso e pedir desculpas por toda a turbulência econômica que a proposta criou.

 

O “miniorçamento” (mini-budget, termo usado em inglês) proposto, que também incluía uma reversão dos aumentos de impostos corporativos e uma interrupção nos aumentos dos custos planejados para o seguro nacional, causou queda nos mercados financeiros britânicos por várias semanas, além de uma crise cada vez mais profunda no custo de vida. O plano de Truss fez com que os investidores estrangeiros fugissem da economia britânica, levando a moeda do país – a libra – a uma desvalorização recorde frente ao dólar. O Banco da Inglaterra precisou intervir para evitar que a situação se transformasse em uma crise financeira, com um programa maciço de compra de dívida de longo prazo.

 

Gastos bilionários com subsídios às contas de energia, que subiram mais de 300% nos últimos dois anos, também era uma das propostas de Truss. O Reino Unido, assim como outros países da Europa, sofre os efeitos da guerra na Ucrânia e ainda tenta se recuperar das sequelas da pandemia. Entretanto, a ausência de qualquer estratégia de como os cortes seriam financiados levou os mercados ao colapso.

 

Esse caos econômico precipitou uma crise política. O poder de Truss caiu rapidamente, assim como a estima pública por seu Partido Conservador. Os membros do partido críticos a ela reivindicaram a sua renúncia, os aliados concordaram. A renúncia de Truss é o culminar de meses de descontentamento latente dentro do Partido Conservador, cuja aprovação despenca a cada nova pesquisa.

 

O Partido Conservador informou que as indicações para um novo líder serão encerradas na segunda-feira (24/10). Os candidatos precisam das assinaturas de 100 dos 357 parlamentares conservadores, o que pode chegar a três indicados. Posteriormente, caso haja três indicados, os parlamentares eliminarão um deles e pedirão aos 172.000 membros do partido que decidam entre os dois finalistas em uma votação online. O novo líder deve tomar posse até 28 de outubro.

 

Embora uma eleição nacional não precise ser convocada até 2024, os partidos de oposição exigem que um novo pleito seja realizado agora, alegando que o governo não tem legitimidade democrática. O líder do Partido Trabalhista de oposição, Keir Starmer, acusou os conservadores de presidir o “caos total”. Segundo Starmer, essa situação está causando enormes danos à economia e à reputação do país. “Precisamos ter a chance de um novo começo. Precisamos de uma eleição geral – agora”, declarou ele.

 

O fato é, quem quer que suceda a Liz Truss, se tornará o terceiro primeiro-ministro do país este ano e terá grandes desafios pela frente. E em um contexto pós-Brexit, enfrentar esses desafios deve ser a preocupação central de quem decidir aceitar as chaves do número 10 da Downing Street.

 

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